Deus, o Senhor do Tempo

 


O que é tempo? É uma pergunta que nos inquieta. O tempo é aquilo que vemos passar em nossos relógios? Ou aquele que contamos em nossos calendários? Ou uma das coordenadas que compõe do tecido espaço-tempo? Para os agricultores, há o tempo de plantar e o tempo de colher. Para pescadores, há o tempo de defeso, para que os peixes possam crescer e que as futuras pescarias possam ser fartas. Para todos nós, humanos em geral, o tempo pode ser até um inimigo, pois um dia a mais, pode ser um dia a menos...

Para físicos, astrônomos, agricultores, pescadores, o tempo é um elemento essencial para o exercício de suas atividades. Somos permeados pelo tempo. Em nossa sociedade industrial, temos horários. Hora de acordar, tomar café e ir ao trabalho, escola, almoço, jantar. Tudo isso sob o controle rígido do relógio, uma espécie de deus que nos rege.

O tempo nos é tão caro que criamos calendários, relógios e outros instrumentos que que possam nos auxiliar a medi-lo. Não só medi-lo, mas também controlá-lo. Desde que inventamos a agricultura, há 10 mil anos atrás, nossa obsessão pelo tempo tem piorado. Mesmo assim, ainda sabemos pouco sobre ele.

Mas e para Deus? O que é tempo? É difícil falar sobre. Porém, podemos ter uma ideia: o tempo para Deus é bem diferente do que para nós. Nossa natureza passageira, fugaz e transitória não nos permite compreender o tempo em Deus. Somos feitos de urgência! Nossa fragilidade demanda que as coisas sejam feitas pra ontem! Contudo, Deus, que vive e é o absoluto, estabelece uma outra relação com o tempo. O tempo Dele é a eternidade. E tudo o que Ele faz é gira em torno dessa relação.

Deus, para que sua mensagem fosse passada, escolhe um povo. Um povo que vivia do pastoreio, migrante, seminômade. Um povo para o qual o tempo era o tempo cíclico, onde as estações passavam, o tempo de seca, o tempo de fartura, de ir ou de ficar. Quando Deus escolhe Abraão, ele rompe com aquele ciclo. Agora Abraão, um simples pastor, passaria a ser um pai de uma nação, e agora isso transcenderia os meros ciclos das estações e tudo o que aconteceria teria consequências por gerações.

O povo escolhido, mesmo ele, por ser essencialmente humano, também era inquietado pelo tempo. Também era filho da urgência, era frágil e transitório. E deve ser por isso muitas vezes entrava em conflito com Deus, que queria lhes ensinar que o tempo não é o senhor, mas sim Ele, Deus. Deus está acima do tempo. Ou ele seria o tempo?

Nós, seres ignorantes, frágeis e transitórios, clamamos a Deus que tudo seja urgente. Suplicamos em nome de nossas misérias, nossas dores. Os Salmos que o digam. “Ó Senhor, Deus dos Exércitos, até quando arderá a tua ira contra as orações do teu povo? 5 Tu lhes dás a comer pão de lágrimas, e lágrimas abundantes a beber.” (Salmos 80:4,5). No entanto, Deus não está alheio a nossas súplicas. Mesmo quando está irado conosco por nossas faltas, é indulgente, pois nos conhece. E nos pede paciência. E nesse caso, essa paciência atende pelo nome de Esperança.

Deus, para que sua mensagem de Esperança fosse ouvida, envia nos profetas para que denunciassem as mazelas daquela sociedade, mas que também anunciassem que no devido tempo, Ele estaria conosco. Escolheu uma linhagem dentre tantas para que sua promessa fosse cumprida. Uma linhagem de reis, que não era nem sombra do poder de outrora, pois agora o povo estava subjugado por uma nação estrangeira. A linhagem de Davi, um pastor que virou rei, e que depois de 2 mil anos, após esplendor e glória, tinha por descendente um carpinteiro e uma mulher jovem, de poucas posses, que estava grávida e ainda não era casada (um escândalo para a época). Isaías já havia escrito: “Por isso o Senhor mesmo lhes dará um sinal: a virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel.” (Isaías 7:14).

Deus é o senhor do tempo. Ele sabe como e por quê as coisas ocorrem em determinados períodos. E sabe escolher seus atores. Quis Ele que uma mulher fosse sua protagonista, pois as mulheres são fundamentais em suas intervenções. Assim como foram nos tempos de Moisés, quando as mulheres se negaram a matar crianças, assim como Rute e Ester (ambas estrangeiras em seus tempos), Maria teve papel da mãe do Cristo. E José, seu marido, um carpinteiro, simples, homem do povo, justo, que tinha tudo para rejeitá-la, foi tocado pelo amor de Deus, e assim não o fez. “Ao acordar, José fez o que o anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu Maria como sua esposa.” (Mateus 1:24). E assim chegava o tempo do Senhor (advento). De reis a carpinteiros, de rainhas a mulheres desprezáveis pela sociedade, naquele contexto Deus se fazia conosco (Emanuel). Um Deus poderoso e eterno se fez humano. Assim o tempo de cumpriu. E assim se cumprirá, pois “E vocês também estão entre os chamados para pertencerem a Jesus Cristo.” (Romanos 1:6). Tudo a seu devido tempo, no tempo de Deus. Pacientemente e esperançosamente aguardamos. 

 

 

 

 

 

 

 

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